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DA EPISTEMOLOGIA DOCENTE À DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA.

  • elessandromestrado
  • 3 de mar.
  • 4 min de leitura

Por Elessandro Salustiano



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Para iniciar este post cabe destacar a seguinte questão, por que se falar em Epistemologia da prática profissional docente antes de pensar a didática das aulas de Educação Física? Mediante a tantas classificações existentes, para efeito de análise penso que a concepção não-propositiva numa abordagem cultural seja a mais adequada para essa pesquisa. Segundo Daolio (2018, p.7):


Há algum tempo atrás o que existia na Educação Física era um predomínio biológico, não havia discussões sobre questões socioculturais na Educação Física. Somente quando a Educação Física passa a ser pensada a partir de referenciais das ciências humanas é que a discussão sobre o conceito de cultura vem a tona, pois até então, o corpo era visto somente como um conjunto de ossos e músculos e não expressão cultural; o esporte era apenas passatempo ou atividade que visava ao rendimento atlético e não fenômeno político; a Educação Física era uma área exclusivamente biológica e não podia ser explicada pelas ciências humanas. (DAOLIO, 2018, p.7)”.


O conceito de epistemologia tem sua origem na composição grega “episteme” (conhecimento) e “logos”, (razão, explicação) e significa o estudo da natureza do conhecimento, a sua justificação e seus limites (AUDI, 2004). A epistemologia é a teoria do conhecimento que estuda de modo reflexivo e metódico como um conhecimento foi construído, o que implica a construção de um juízo normativo acerca da sua história e legitimidade (NEIRA; NUNES, 2020, p. 25).



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A construção do saber docente está vinculada a um método remoto, histórico, no qual inicia esse processo de formação docente ainda na escola, enquanto aluno, ou seja, a prática didática está relacionada com o que aprendeu na escola. Nesse sentido, muitas vezes o professor de Educação Física aparece como mero transmissor daquilo que a ele foi ensinado, o que torna as aulas de Educação Física apenas uma atividade pela atividade ou nas palavras de Freire (1996, p.22), a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática, na qual somente a teoria é concebida por um discurso genericamente normativo-prescritivo e, somente a prática, se torna ativismo. Por vezes a formação superior não dialoga muito bem com a escola, e isso dificulta demais o trabalho docente.


Para Cavalcanti (2014, p. 985), a formação acadêmica e a produção de conhecimento científico pressupõem a pesquisa que por sua vez envolve a questão epistemológica, não sendo possível produzir conhecimento sem o aporte epistemológico e metodológico:


A falta de formação filosófica reduz a problemática da pesquisa científica a uma simples questão de opções técnicas relacionadas à seleção de alguns encaminhamentos, fórmulas ou receitas, apresentados nos tradicionais manuais de pesquisas. Esses “reducionismos” poderão ser superados intensificando a formação filosófica dos educadores e principalmente sua formação epistemológica (GAMBOA, 2012, p. 105 citado por CAVALCANTI, 2014, p. 985).


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O autor argumenta que quando estamos no campo da epistemologia, fazemos filosofia do conhecimento científico. Ao docente atuante na disciplina de Educação Física é necessário que conheça sua epistemologia para sair do senso comum, e assim, desenvolver um trabalho pedagógico com maior qualidade. Cavalcanti (2014, p.986), afirma que uma boa e consistente formação epistemológica são um dos pilares para uma formação docente consistente, o que equivale dizer que a ausência ou o pouco investimento nessa área repercute negativamente no desempenho em sala de aula.


Ao docente é necessário entender a importância da teoria em sua prática docente, pois será através dela que o professor cria sustentação para seu planejamento, sua prática e sua reflexão. Medina (1990) entende que:


A tarefa do nosso profissional de Educação Física em sua função básica como agente renovador e transformador da cultura subdesenvolvida em que vive só poderá se concretizar por intermédio de uma prática. Somente as nossas ações é que poderão efetivar mudanças numa determinada situação. Aliás, seja qual for à área de atuação, nada acontecerá de fato à realidade existente se não houver uma prática dinamizando tal realidade. Contudo, qualquer prática humana, sem uma teoria que lhe dê suporte, torna-se uma atitude tão estéril (apenas imitativa) quanto uma teoria distante de uma prática que a sustente (MEDINA, 2007, p.68).


Corroborando a isso, Rezer (2014, p.191), parte da ideia de que a epistemologia se trata de uma possibilidade de compreender melhor o conhecimento do conhecimento (episteme) que “está” nas “coisas do mundo”, bem como, o que se deriva destas “coisas”, para além das opiniões, do senso comum e dos dogmas. Em sua tese de doutorado Rezer (2010) argumenta que há necessidade de trabalhar de uma forma mais aprofundada, com determinadas questões epistemológicas. Ou seja, há necessidade de um mergulho mais focado, que possa permitir aos estudantes (ou aos docentes, grifo nosso) compreenderem melhor o conhecimento que constitui a Educação Física, o que o autor chama de “dar um passo atrás”.


Considerando todos os autores citados até este momento e levando em conta os entendimentos sobre como uma epistemologia pode alicerçar a Educação Física Escolar, cabe levantar mais uma questão. Como seria a epistemologia pautada em Paulo Freire?


REFERÊNCIAS

AUDI, Robert. Dicionário AKAL de Filosofia. Madrid: AKAL, 2004.


DAOLIO, J. Educação Física e conceito de cultura – polêmicas do nosso tempo. Editora Autores Associados Ltda, Campinas/SP: 2018.


CAVALCANTI, Alberes de Siqueira. Olhares epistemológicos e a pesquisa educacional na formação de professores de ciências. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 40, n. 4, p. 983-998, out./dez., 2014.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática pedagógica. ed.41, São Paulo: Paz e Terra, 1996.


MEDINA, João Paulo Subirá. A educação física cuida do corpo... e “mente”: bases para renovação e transformação da Educação Física. ed. 22ª, Campinas: Papirus, 2007.


NEIRA, Marcos Garcia; NUNES, Mário Luiz Ferrari. As dimensões políticas, epistemológica e pedagógica do currículo cultural da educação física. Ciências do Esporte, Educação Física e Produção do Conhecimento em 40 anos de CBCE. v. 5, Organizadores – Fabiano Bossle, Pedro Athayde, Larissa Lara. Educação física escolar. Edufrn: Natal, 2020. Retirado de: http://www.cbce.org.br/upload/biblioteca/Educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20escolar%20(Ci%C3%AAncias%20do%20esporte,%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20e%20produ%C3%A7%C3%A3o%20do%20conhecimento%20em%2040%20anos%20de%20CBCE%20-%20%20v.%205).pdf Acesso em: 23/05/2021.


REZER, Ricardo. A epistemologia nos cursos de Educação Física – experiências e desafios (O contexto da Unochapeco). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.36, n.l, p.189-204, jan./mar. 2014.


REZER, Ricardo. O trabalho docente na formação inicial em Educação Física: reflexões epistemológicas. Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.






 
 
 

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