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Educação Problematizadora como base epistemológica na Educação Física Escolar.

  • elessandromestrado
  • 1 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 3 de mar.

Por Elessandro Salustiano


A conscientização, conceito-chave da pedagogia freiriana, implica fundamentalmente no desvelamento da realidade com o propósito de transformá-la. Consiste no “olhar mais crítico possível da realidade, que a ‘dês-vela’ para conhecê-la e para conhecer os mitos que enganam e que ajudam a manter a realidade da estrutura dominante” (FREIRE, 1980, p.29). Se valendo das palavras de Paulo Freire para iniciar este tópico, alguns questionamentos são de suma importância, por exemplo: que sociedade queremos no futuro? Que educação queremos? Que Educação Física Escolar almejamos? Como desejamos que seja a relação de nosso educando hoje com a sociedade amanhã? É interessante que essas e outras questões sejam formuladas no momento em pensamos a educação como um todo, pois fortalecer as bases teóricas é de suma importância para que o educador desempenhe bem sua atividade docente. Segundo Neira (2011, apud Françoso e Neira, 2014, p.533), “a finalidade da Educação Física na Educação Básica é, ainda hoje, um terreno de disputas, no qual diferentes grupos defendem seus interesses, buscando argumentos em princípios alheios ao campo educacional”.

Segundo o autor Medina (2007, p.69):


[...] a superação de uma consciência comum convertendo-a em uma consciência filosófica cada vez mais crítica e, portanto, apta à transformação, implica necessariamente perceber, implícita ou explicitamente, que as relações entre nossas ações e reflexões são fenômenos que se completam e que embora possam ser consideradas de maneiras distintas, não se excluem.


O pensar a Educação Física através de correntes voltadas as área de humanas ainda é tarefa difícil, visto que, a formação do professor de Educação Física nas universidades ainda tem um forte predomínio das área biológicas. O autor Nunes chama a atenção para esse fato, “na maioria dos casos, o absoluto predomínio de disciplinas de cunho biológico contribui para desvirtuar a forma com que os futuros docentes elaboram suas representações acerca do ensino da Educação Física na escola” (NUNES, 2011 APUD FRANÇOSO E NEIRA, 2014, P.522).

Para Nunes (2019, p. 30):


As teorias críticas chamaram a atenção para valores e conteúdos transmitidos pela escola capitalista, questionaram o modo como os conhecimentos são produzidos e validados socialmente, apontaram as injustiças dos modelos reprodutores dos sistemas sociais e denunciaram a educação como um território em que a ideologia dominante impõe sua lógica (NEIRA, 2019, p.30).


“Formar um indivíduo crítico”, este discurso está presente em documentos oficiais como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), esse é o desafio colocado ao professor, que por vezes sente-se incapaz de mobilizar sua disciplina para realizar tal intento. “A Educação Física, como disciplina componente do currículo escolar, deve contribuir para esse processo de formação crítica” (PIRES et al., 2017, p.116)..

A BNCC não se aproxima do pensamento freireano, uma vez que, a educação libertadora entende que o educando é visto como sujeito da própria história num processo de reflexão que visa sua transformação. Sendo assim, não convêm a pedagogia libertadora ficar “amarrada” a conteúdos inertes que muitas vezes não condiz com a realidade dos alunos.

Segundo Delizoicov (2003, citado por Poli, 2007, p.165), a dinâmica da educação problematizadora trata-se efetivamente de uma práxis; de uma metodologia teorizada que se efetua em cindo etapas, conforme o organograma abaixo:


POLI, Solange Maria Alves. Freire e Vigotski: o diálogo entre a pedagogia freireana e a psicologia histórico-cultural. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2007. Retirado de: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16062008-133010/publico/Capitulo4.pdf
POLI, Solange Maria Alves. Freire e Vigotski: o diálogo entre a pedagogia freireana e a psicologia histórico-cultural. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2007. Retirado de: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16062008-133010/publico/Capitulo4.pdf

Num primeiro momento da práxis educativa libertadora, através de fontes secundárias e conversas informais com os sujeitos locais, se realiza a primeira aproximação e coleta de dados. Nesta fase é necessário um comprometimento afim de estabelecer uma relação de confiança. Segundo Poli (2007), a segunda fase começa precisamente, quando os investigadores, com os dados que recolheram, chegam à apreensão daquele conjunto de contradições. A análise aqui necessita fundamentalmente do amparo do olhar sobre a constituição humana no processo de vida social histórica.


Na próxima etapa – Diálogos e Descodificações – se torna necessário a participação dos representantes da comunidade, pois o diálogo entre os saberes é uma marca importante no processo de descodificação. Um momento, sem dúvida, de constituição de novos modos de compreender a realidade através do uso da palavra (POLI, 2017, p.168). Depois de encerrado o processo de descodificação, inicia-se a etapa de redução temática, onde é iniciado os estudos dos achados advindos das descodificações. Segundo Poli (2017, p.171), “Freire ainda chama a atenção para o fato de que neste momento de redução temática podem ser acrescentados temas importantes que não foram sugeridos pelo povo durante a investigação. São os chamados ‘temas dobradiças’”. Todo o processo culmina com o trabalho em sala de aula, todo esse movimento irá gerar uma nova codificação que deverá ser descodificada nas situações de sala de aula através da dialogicidade e da problematização dos conteúdos (POLI, 2017, p.165).


Enfim, a práxis na Educação Física exige a vivências das manifestações corporais, de uma maneira que não seja restringido apenas a movimentos mecânicos. O docente e o discente devem ter bem claros que as aulas são um campo aberto ao debate, e “conceber as práticas corporais no plano da cultura é o que permitirá ao currículo da Educação Física insprirar-se no legado freireano” (FRANÇOSO E NEIRA, 2014, P.535).


REFERÊNCIA

FRANÇOSO, S. e NEIRA, M. G. Contribuições do legado freireano para o currículo da Educação Física. Rev. Bras. Ciên. Esporte. Florianópolis, v.36, n. 2, p. 531- 546, abril/junho 2014. Retirado de: https://www.scielo.br/pdf/rbce/v36n2/0101-3289-rbce-36-02-00531.pdf Acesso em: 23/05/2021.


FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.


NEIRA, Marcos Garcia; NUNES, Mário Luiz Ferrari. As dimensões políticas, epistemológica e pedagógica do currículo cultural da educação física. Ciências do Esporte, Educação Física e Produção do Conhecimento em 40 anos de CBCE. v. 5, Organizadores – Fabiano Bossle, Pedro Athayde, Larissa Lara. Educação física escolar. Edufrn: Natal, 2020. Retirado de: http://www.cbce.org.br/upload/biblioteca/Educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20escolar%20(Ci%C3%AAncias%20do%20esporte,%20educa%C3%A7%C3%A3o%20f%C3%ADsica%20e%20produ%C3%A7%C3%A3o%20do%20conhecimento%20em%2040%20anos%20de%20CBCE%20-%20%20v.%205).pdf Acesso em: 23/05/2021


NEIRA, Marcos Garcia. Educação Física Cultural – inspiração e prática pedagógica. ed.2ª, Paco Editorial: Jundiaí [SP], 2019.


MEDINA, João Paulo Subirá. A educação física cuida do corpo... e “mente”: bases para renovação e transformação da Educação Física. ed. 22ª, Campinas: Papirus, 2007.


POLI, Solange Maria Alves. Freire e Vigotski: o diálogo entre a pedagogia freireana e a psicologia histórico-cultural. Tese de Doutorado, Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2007. Retirado de: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16062008-133010/publico/Capitulo4.pdf acesso em: 23/05/2021.



 
 
 

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