Porque a Educação Física é da área de linguagens?
- elessandromestrado
- 18 de mar.
- 2 min de leitura
Criado por Elessandro Salustiano
Quando pensamos em Educação Física, geralmente associamos a disciplina ao movimento, ao esporte, ao desenvolvimento motor e à melhoria da saúde. No entanto, há um aspecto muitas vezes negligenciado: a Educação Física como linguagens. Mais do que um simples conjunto de atividades corporais, ela é uma forma de expressão, comunicação e interação humana.
Nosso corpo fala. Ele se manifesta por meio de gestos, posturas, expressões faciais e movimentos que carregam significados tão profundos quanto as palavras. Em uma sociedade que valoriza o discurso verbal e escrito, esquecemos que o corpo também comunica, traduzindo emoções, intenções e sentimentos que, muitas vezes, não conseguimos expressar em palavras.

A Educação Física deve ser compreendida como um espaço para o desenvolvimento dessa linguagem corporal. Quando um atleta salta, corre ou arremessa, ele não está apenas realizando um movimento técnico, mas expressando um significado próprio, culturalmente construído. Assim, o gesto de um jogador de vôlei ao erguer os braços para um bloqueio ou a postura de um dançarino em meio a uma coreografia não são meros atos motores, mas símbolos carregados de intencionalidade.
Para além da técnica e da performance, a Educação Física possibilita uma reconexão com o corpo como meio de comunicação. Muitas vezes, tratamos o corpo como um objeto que possuímos, algo separado do nosso ser. Porém, é por meio dele que experimentamos o mundo, interagimos com os outros e manifestamos nossa identidade. Como destaca Porto (1995), é pelo corpo que percebemos, sentimos e nos relacionamos com a vida. Ignorar essa dimensão significa fragmentar a experiência humana e reduzir a Educação Física a uma prática mecânica.

Ao enxergar a Educação Física como linguagem, compreendemos que ela não se limita ao ensino de esportes e exercícios físicos. Ela envolve o desenvolvimento de uma consciência corporal que permite ao indivíduo se expressar e interpretar as expressões dos outros. Isso torna a prática mais significativa, pois não se trata apenas de executar movimentos, mas de atribuir a eles sentido e emoção.
A comunicação corporal, como aponta Santin (1990), revela sentimentos genuínos como alegria, medo e amor. Dessa forma, quando jogamos, dançamos ou simplesmente nos movimentamos, estamos comunicando algo ao mundo. Essa visão transforma a Educação Física em um campo de conhecimento mais amplo, que valoriza a experiência sensível e subjetiva do ser humano.

Diante disso, professores, alunos e profissionais da área devem refletir: estamos ensinando apenas técnicas ou estamos ajudando nossos alunos a compreender e utilizar seu corpo como um meio de comunicação? Como podemos resgatar essa dimensão das linguagens corporais em nossas práticas pedagógicas?
A Educação Física pode (e deve) ser um espaço de expressão e descoberta. Quando nos movimentamos, não apenas existimos no mundo – nos conectamos a ele e aos outros de maneira profunda e essencial. Afinal, nosso corpo não apenas realiza movimentos, ele fala. E aprender a ouvir e a se expressar por meio dele é um dos maiores desafios e conquistas que a Educação Física pode proporcionar.
REFERÊNCIAS
PORTO, E. T. R. Mensagens corporais na pré-escola, um discurso não compreendido. IN: MOREIRA, W. W. (org) Corpo Presente. Campinas, Papirus, 1995.
SANTIN, S. Educação Física: outros caminhos. Porto Alegre, EST, 1990.
Comments