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A Função Social da Educação Física no Contexto da Escola Pública.

  • elessandromestrado
  • 15 de mar.
  • 5 min de leitura

Criado por Elessandro Salustiano


Imagem de um homem de costas segurando a bandeira do Brasil em um estádio de futebol

A expectativa é que a Educação Física Escolar contribua para atender aos interesses de classe das camadas populares, visto que, são o maior público nas escolas públicas e por realizar reflexões pedagógicas buscando desenvolver valores como solidariedade substituindo o individualismo, cooperação confrontando a disputa, distribuição chocando com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos – a emancipação - negando a dominação e submissão do homem pelo homem (CASTELLANI FILHO et al, 2009, p.41).



Penso que a função social da Educação Física seja parecida com a função social de outras disciplinas, visto que, a disciplina de Educação Física é um componente curricular da escola assim como, a matemática, geografia, história, etc. Apesar das disciplinas trabalharem com conteúdo diferenciados, o objetivo de formar o cidadão crítico deve ser almejado por todos os professores e professoras independentemente da disciplina lecionada. Por essa razão, pode-se dizer que a função social da Educação Física é a mesma da escola. Sobre a função social da escola, Saviani (1984, p.2), ao tratar da escola básica o autor parte do seguinte:


[...] a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado. Vejam bem: eu disse saber sistematizado; não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não à cultura popular.


Cabe a escola segundo Carvalho (1996), preservar e transmitir os conteúdos culturais de uma civilização ou nação, os quais cabem aos formadores de currículos proporem (apud FENSTERSEIFER e GONZÁLEZ, 2021, p. 7). E dando sequência os autores afirmam que a escola deve “preparar a passagem do privado (família) para o público (política/cidadania), viabilizando sua inserção e sua ação no mundo, através da qualificação da capacidade de interlocução, colocando-se à altura dos problemas de seu tempo”.


Neira e Nunes (2009, p.39), entendem que “a escola deve preconizar a importância da preparação dos alunos para que possam compreender a vida real e se posicionarem diante dela de maneira crítica e autônoma”.


Segundo Libâneo (2005), a educação pode ser classificada em três tipos: formal, não forma e informal. A educação formal é aquela que acontece nas instituições escolares, com a supervisão do Estado e tem por objetivo a formação acadêmica, científica e profissional. Tem por característica os currículos, métodos de ensino, avaliações e certificações. A educação não formal é aquela que ocorre fora do âmbito escolar, em espaços não regulados como empresas, organizações sociais, associações, etc. Ela tem por objetivo o desenvolvimento pessoal, social e profissional não estando sujeita a currículo formal. A educação informal é aquela que ocorre no cotidiano, por meio das experiências vividas pelos indivíduos, como as aprendizagens em família, entre amigos, na comunidade, etc. É adquirida de forma espontânea, sem intencionalidade educativa explícita.


É importante destacar que essas três formas de educação são importantes e complementares para o desenvolvimento integral da pessoa. Pois terá grande contribuição para a formação de cidadãos críticos e autônomos.


Porém, a escola e consequentemente a Educação Física, tem encontrado dificuldades em preparar os estudantes para o bom convívio no meio social. O primeiro ponto é que não cabe apenas a escola tornar essas crianças e esses jovens pessoas críticas e participativas no meio social, outras instituições tais como a igreja e a família tem grande influência nas ações educativas. O segundo ponto são as ações governamentais, especialmente do governo federal, que muitas vezes parece ir de encontro com os objetivos educacionais e vem provocando o desmonte na educação em nosso país. Cito como exemplo a manobra de criação do Decreto nº 10.252/2020, que altera a estrutura regimental do Incra e também extingue a Coordenação-Geral de Educação do Campo e Cidadania, responsável pela gestão do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e, consequentemente, elimina a política de educação do campo no país (FÓRUM EDUCACIONAL DE EDUCAÇÃO DO CAMPO, 2020). O que trará grande prejuízo para a educação, especialmente, é claro, para as classes populares que residem no campo.


Sendo a Educação Física um componente curricular que contribui para a formação das pessoas, podemos nos questionar. Como a Educação Física pode colaborar na formação da pessoa crítica, participativa e capaz de “ler o mundo” afim de melhorá-lo? Para Neira (2009, p.2), a disciplina aprofunda numa pequena parcela da cultura e ainda afirma:


O que a Educação Física analisa é o chamado patrimônio corporal. Nosso papel é investigar como os grupos sociais se expressam pelos movimentos, criando esportes, jogos, lutas, ginásticas, brincadeiras e danças, entender as condições que inspiram essas criações e experimentá-las, refletindo sobre quais alternativas e alterações são necessárias para vivenciá-las no espaço escolar.


É importante que o professor de Educação Física, não feche os olhos para nenhuma forma de manifestação que envolva movimento e cultura. Podemos citar como exemplo as danças, existe uma forte tendência com generalizações e crenças de que danças como o “funck carioca” é coisa de “favelado” ou de pessoas que não se valorizam, ou que o hip-hop é coisa de bandido ou drogado. Assim como o balett, é considerado coisa de gente bonita e “culta”, e que na Educação do Campo só possam ser trabalhados ritmos que derivam da música sertaneja.



As danças citadas podem e devem ser trabalhadas em qualquer escola, independentemente de sua localização, seja na zona rural ou urbana, dos bairros pobres aos bairros mais ricos. Para o bom cumprimento de seu papel, o professor não deve ficar apenas ensaiando coreografias, mas construir com os alunos um pensamento crítico, expondo para os estudantes “como, onde e porque” surgiu determinada modalidade de forma que os ajude a interpretar o que são essas danças, e isso irá contribuir para que conheçam sua própria identidade cultural.


Para alcançar o pensamento crítico dos estudantes, um bom caminho é através da pesquisa, comparando situações e refletindo sobre os conteúdos abordados. Por exemplo, no caso do futebol, levá-los a conhecer diferentes formas de jogar o futebol (de campo, futsal, de areia), como se jogava no passado e como se jogar nos dias atuais, levantar questões indagando: porque o futebol feminino não é tão divulgado? O jogador ou a jogadora de futebol são tratados como seres humanos ou um produto a ser oferecido pelo mercado e consumido pelos espectadores? Esses são pequenos exemplos de como problematizar o futebol nas aulas de Educação Física e fazer ligações com outras áreas do conhecimento e do dia a dia de alguns estudantes. E de acordo com Neira (2009, p.5), “uma Educação Física que trabalha apenas com movimento, não constrói esse senso crítico”.


Portanto, para se trabalhar no sentido de construir o senso crítico no estudante, conhecer os aspectos culturais da comunidade onde o estudante reside, especialmente o estudante de escolas do campo, torna-se fundamental.


REFERÊNCIAS

CASTELLANI FILHO, Lino et al. Metodologia do ensino de educação física / Lino Castellani Filho, Carmen Lúcia Soares, Celi Nelza Zulke Taffarel, Elizabeth Varjal, Micheli Ortega Escolbar e Valter Brach. 2ª ed. rev. São Paulo: Cortez, 2009.


SAVIANI, Demerval. Sobre a natureza e especificidade da educação. Em aberto, Brasília, ano 3, n. 22, julho/agosto, 1984.


CARVALHO, José Sérgio F. de. Algumas reflexões sobre o papel da escola de 2º grau. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo: Suplemento 2, 1996, p. 36-39. Retirado de: https://www.revistas.usp.br/rpef/article/view/139644 acesso em: 27/04/2023.


NEIRA, Marcos Garcia, NUNES, Mário Luiz Ferrari. Educação Física, Currículo e Cultura. São Paulo: Phorte, 2009.


LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

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