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GINÁSTICA: UM MODELO ANTIGO COM ROUPAGEM NOVA? OU UMA NOVA MANEIRA DE APRISIONAR CORPOS?

  • elessandromestrado
  • 23 de fev.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de abr.

Por Claudia Sueli Litz Fugikawa. Colégio Estadual Bom Pastor, Curitiba-PR.


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Estamos inseridos numa sociedade fundamentada nos valores do capitalismo, em que a lógica do mercado é o consumo, cuja preocupação está em fixar indústrias pautadas no lucro e criar meios que tornem a vida moderna mais confortável.

Com a suposta intenção de “melhorar a vida” das pessoas, nos aspectos materiais e tecnológicos como nos aspectos fisiológicos, biológicos e anatômicos, também surgem produtos variados – desde alimentos até as intervenções cirúrgicas – que visam a correção de supostas imperfeições.


“Espelho, espelho meu... existe alguém mais bela do que eu?...”


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Vivemos numa sociedade em que tudo o que está ao nosso redor interfere, de certa forma, em nossos pensamentos e nossas ações. O circula de amigos, a religião, as relações sociais, as relações de trabalho, a influência da mídia são alguns dos fatores que nos tornam o que somos.

Somos sobrecarregados de informações que nos influenciam, e isso se reflete no modo como nos relacionamentos no mundo.

Neste sentido, as diferentes indústrias desenvolvem pesquisas e novas tecnologias tentando alcançar um número cada vez maior de consumidores.



“Engenharia genética, cirurgia a laser, transplantes, silicones, alimentos transgênicos esteroides anabolizantes compõem um instrumental contemporâneo diversificado, que vai redimensionando o corpo numa velocidade espantosa, ao mesmo tempo em que o torna radicalmente contingente”. (VIRILIO 1996, apud FRAGA in SOARES, 2004, p. 63)


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Assim, pela padronização do consumo, que determina vontade e vaidades, nós acabamos perdendo uma das características fundamentais do ser humano que é a singularidade.

As gordurinhas localizadas, as estrias, as celulites, as rugas compõem o rol de aspectos indesejados que não são bem vistos ao nos referirmos à questão da aparência. O mercado de consumo, atento a esses aspectos, desenvolve mecanismos e produtos para satisfazerem as necessidades criadas por essa mesma lógica de consumo, principalmente para aquelas pessoas que nunca estão satisfeitas com a própria aparência.

Todas essas supostas imperfeições são alvo de enormes investimentos da indústria de cosméticos e das academias, que criam variados artefatos, cada vez mais sofisticados, com o objetivo de adaptar corpos às exigências da sociedade.

Será que atingir este “ideal” de corpo ditado pela mídia é fácil?

O caminho a ser percorrido por aqueles que almejam o modelo ideal de corpo não é simples. Ao contrário, exige muita vigilância e sacrifício numa “árdua rotina de exercícios” e outros meios artificiais para a luta contra a balança e contra o espelho.

Que motivos nos levam a mudar a própria aparência? Até que ponto homens e mulheres. Segundo estudo realizado por Vaz (2004), e academias de ginástica em Florianópolis as mulheres descrevam formas corporais ideais da seguinte maneira: preocupam-se principalmente com o fortalecimento dos membros inferiores e com abdome.


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Já as respostas a estas questões por parte dos homens referem-se à constituição (corporal) física bem delineada, ou seja, aqueles homens fortes, do tipo “saradão”, barriga “tanquinho” ou, em outros termos, homens musculares com um volume (tônus) muscular aumentado principalmente nos membros superiores.

Esta imagem “ideal” de corpo, desejado por algumas pessoas, está baseada exclusivamente na aparência e, para reforçar essa ideia, há várias personalidades famosas na mídia que têm a sua imagem intensa e constantemente veiculada como modelo de “corpo perfeito”.

Ainda conforme o mesmo estudo de Vaz (2004), alcançar tais “contornos corporais ideais”, sem intervenções artificiais como bisturis, utilizando apenas a prática de atividade física, não é assim tão fácil. Isso significa que não é com a prática de uma atividade física realizada uma vez ou outra que será possível chegarmos às formas corporais descritas anteriormente.

Pois bem, é preciso muita “malhação” e sacrifícios, o que faz com que algumas pessoas travem “batalhas” incessantes e incansáveis com a balança, com o espelho, com dietas e exercícios físicos, sem contar as dolorosas incisões cirúrgicas, para aqueles com possibilidades financeiras que buscam resultados mais rápidos.

Os sacrifícios são considerados válidos para se obter um corpo “sarado” e estão associados a uma “malhação” bem sucedida. Tal “malhação” é muitas vezes, confundida com a sensação de dor. Quantas vezes ouvimos as pessoas dizendo que fizeram ginástica e não sentiram “dor”, então a prática dessa atividade não deve ter tido efeito.

Essas são questões idealizadas pela grande maioria da população? Ou será que essas são apenas preocupações de uma parcela da população, que tem condições financeiras de pagar para ter acesso a tais práticas?

Quantas pessoas se submetem a dietas malucas, exercícios frenéticos ou até medicamentos proibidos ou duvidosos para perder alguns “quilinhos”?

E você, já parou para pensar no que gostaria de “melhorar” nessa ou naquela parte do seu corpo? Até que ponto tais preocupações não seriam fruto da influência daqueles padrões divulgados pela mídia?



Afinal de contas, o que significa o termo mídia de massa? Giddes (2005, p.367) esclarece que o significado de mídis de massa é decorrente do fato desse tipo de mídia alcançar uma quantidade enorme de pessoas. Assim, jornais, TV, resistas, internet, rádio são alguns exemplos de mídias de massa que influenciam a opinião, atitudes e comportamentos da maioria da população.

Tudo isso é criado por esse mesmo mercado com a intensão de vender mais, ou seja, criando falsas necessidades de consumo em uma parcela grande da população.







REFERÊNCIAS

GIDDENS, A. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.


SOARES, C. L. (org). Corpo e história. 2 ed. Campinas: Autores Associados, Coleção educação contemporânea, 2004.


VAZ, A. F. ; HANSEN, R. Treino, culto e embelezamento do corpo: um estudo em academias de ginástica e musculação. In.: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 26, n. 1, p. 77-90, set. 2004.

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